✦ Escancarando a Fresta #07 – Mês das Pretas
A Fresta de julho já se abriu no site do Brasil Profundo. Três pistas simbólicas — tempo, território e repertório — para reconhecer o protagonismo das mulheres negras na cultura brasileira.
✨ A Fresta se abre todo mês no site — aberta, viva, gratuita - 🌎 brasilprofundo.cc
Aos apoiadores, enviamos camadas extras: pistas para escavar sentidos, nutrir repertório e sustentar presença. É isso que chega pra você hoje, em comemoração ao Julho das Pretas.
Julho é o Mês das Pretas. Mais do que uma data no calendário, é um chamado para reconhecer o protagonismo das mulheres negras na sustentação do que chamamos de patrimônio imaterial brasileiro - ou, em palavras menos burocráticas, do que faz o Brasil ser Brasil: os gestos, os cantos, os saberes, os ritos, as comidas, os corpos que carregam memória e afeto coletivo.
Além dos símbolos, estamos falando de presença criativa, histórica e cotidiana. Estamos falando das jongueiras que transformam a roda em tempo ancestral, sambadeiras do Recôncavo, que fazem da umbigada um gesto de convocação, e baianas de acarajé, que pararam o apagamento se organizando em redes, ocupando a cidade com seus tabuleiros como quem finca território sagrado.
Esta fresta não é celebração. É reconhecimento.
Tempo | 🎬 Jongo Levanta Povo (PE)
🎬 Sobre o filme
Tema central: o jongo, manifestação afro-brasileira de canto, dança e rito, nascida das resistências nos quilombos do Sudeste do Brasil: um patrimônio imaterial vivo, pulsante e carregado de genealogia.
Protagonismo feminino: o filme dá voz às jongueiras, mulheres negras que lideram cantos, tocam tambor, conduzem rodas, contam histórias e contam com o corpo os mitos e a memória coletiva.
Estética sensível: entre tomadas de roda, close nos pés dançando, gestos no silêncio da noite, o filme evoca o jongo como gente que se ergue quase como uma força espiritual que habita cada batuque, cada canto.
🔍 Destaques
Foco no patrimônio imaterial – O filme não narra a história do Brasil; ele pulsa a cultura em seu corpo-ritual.
Mulheres negras na vanguarda – Sem afã de purismo, mas com delicadeza, destaca quem sustenta a tradição viva do jongo.
Linguagem sensorial – Câmera e montagem que conversam com o observatório: não ilustram, atravessam; ampliam afetos, memórias e sentidos numa experiência de imersão.
🧭 Para atravessar
Ao assistir, tente perceber: como a câmera capta gesto, corpo, giro; o que você sente no eixo entre canto e silêncio.
Repare nos pequenos detalhes: o eco do tambor, o falar lento das cantadeiras, o jeito da roda fechar. Isso é patrimônio imaterial em cena.
Território | 🎬 De Partidas e De Chegadas (BA)
🎬 Sobre o filme
Tema central: o samba de roda do Recôncavo Baiano, manifestação cultural ancestral que integra música, dança, poesia e ritual reconhecida pelo IPHAN em 2004 e pela UNESCO como Patrimônio Imaterial da Humanidade em 2005 por sua genealogia africana e relevância comunitária
Protagonismo feminino: o foco do filme está nas sambadeiras, mulheres negras que, com canto, percussão corporal (prato e faca, palmas) e dança, conservam o rito como ato político e comunitário.
Estética sensível: alternância entre planos dos corpos girando, instrumentos tradicionais como o viola machete, e o chão batido que parece vibrar ao ritmo das vozes e dos tambores.
🔍 Destaques
Foco no patrimônio imaterial: o filme não adapta o samba para palco nem estúdio — ele resgata o samba em sua modalidade original, viva e comunitária, como rito que pulsa no chão.
Mulheres negras no centro: são elas que entram e assumem o centro da roda, convidando outras com o simbólico “umbigada”, mantendo a tradição na memória corpórea e no gesto.
Território vivo: o documentário deixa claro que o Recôncavo não é cenário; é território que se constrói a cada roda: chão, corpo e voz se transformam em geografia afetiva.
🧭 Para atravessar
→ Repare na construção do círculo: como a roda organiza o espaço, convoca-a e refaz-o a cada umbigada.
→ Escute a viola machete: seus tons cortantes dialogam com tambores e vozes em uma arqueologia sonora
→ Sinta o chão: o mover dos pés, o miudinho, o giro das saia pois isso é território sensível em cena.
Repertório | “Nas ruas com as baianas de acarajé” (2018)
📖 Sobre o dossiê
Tema central: Nas ruas com as baianas de acarajé: desafios, lutas e representatividade (Débora S. S. Mendel, 2018) mergulha no cotidiano e nas estratégias coletivas das baianas para manter viva uma prática afro-brasileira que é, ao mesmo tempo, alimento, rito, economia e ocupação política da cidade.
Protagonismo coletivo: o texto mostra como essas mulheres negras não apenas resistem ao apagamento - elas o enfrentam com organização, presença e narrativa própria, fundando associações, negociando políticas públicas e defendendo o acarajé como símbolo de identidade e espiritualidade de matriz africana.
Estilo e profundidade: com base etnográfica e escuta direta, o texto permite entender o tabuleiro como altar e o gesto culinário como ato político. A comida, aqui, é só a superfície de um repertório profundo, enraizado em corpo, fé, rua e comunidade.
🔍 Destaques
Repertório como resistência articulada: as baianas mobilizaram saberes, redes e coletivos para garantir a permanência da tradição em meio a gentrificações simbólicas e urbanas.
Presença negra no centro da cidade: ao ocuparem espaços públicos com seus tabuleiros, elas performam um Brasil que não foi domesticado pelo mercado, mas que impôs sua narrativa pela força do gesto coletivo.
Alerta às marcas: ao se aproximar de repertórios como o das baianas, não basta estetizar é preciso compreender as camadas de identidade, fé e luta que sustentam essas práticas.
🧭 Para atravessar
→ Leia o dossiê percebendo como o tabuleiro é também território: ele marca presença, desafia o silenciamento e convoca a cidade a escutar.
→ Repare nos caminhos que essas mulheres trilharam para se tornarem política cultural e não apenas folclore.
→ Se sua marca quer dialogar com esse Brasil, pergunte-se: estamos prontos para escutar com profundidade ou só queremos temperar a campanha com dendê?
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Fresta #07